quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

CHIADO - 09 de janeiro de 2014


No dia do meu aniversário, Lisboa, após vários dias, amanheceu com sol e poucas nuvens no céu. O frio é agradável e uma blusa foi o suficiente para aquecer-me.
Após o pequeno almoço, saí para mais um percurso, porém acabei, pela proximidade dos locais, misturando alguns propostos no livro "Lisboa em Pessoa". Caminhei cerca de 9 horas hoje, conhecendo ou revendo locais sugeridos no livro e sempre descobrindo paisagens e locais novos.
Atravessei a Praça do Rossio, que fica próxima ao hotel, mas ainda não me detive ali, o que pretendo fazer amanhã, indo em direção ao Elevador de Santa Justa, que faz a ligação entre a Baixa e o Largo do Carmo.  

Praça do Rossio, avistando-se, ao fundo na direção central, o topo do Elevador de Santa Justa

"Não é difícil ouvir que o Elevador de Santa Justa foi concebido pelo francês Gustave Eiffel (autor da famosa torre de Paris que leva o seu nome), o que não é verdade. Ele foi desenhado pelo engenheiro português, de origem francesa, Raoul Mesnier Du Ponsard, aluno do famoso homem da torre de Paris. Mas isso não tira seu charme. Inaugurado em 1902, tem altura equivalente a um prédio de 15 andares (ou 45 metros), imponente em meio aos prédios da Baixa Pombalina, e é todo decorado com uma bela estrutura em ferro com detalhes em filigranas.
Já foi o principal 'atalho' entre a Baixa e o Largo do Carmo, na parte alta da cidade. Hoje, por sua lentidão (não tanto pela velocidade, mas mais pelo intervalo entre as partidas) e seu caráter histórico, serve apenas a turistas com um pouco de paciência para esperar até que ele suba ou desça em velocidade incompatível com as modernas pressas cotidianas (mais uma vez digo, a questão não é a velocidade, mas a espera; essa sim testa a paciência de muitos turistas, que desistem, pois 5 ou 10 minutos é muito a se perder em nosso mundo apressado. Isso eu percebi hoje, quando vi vários turistas desistindo de esperar e indo à pé, pelas ladeiras próximas). Ao levar-nos para cima, o Elevador Santa Justa presenteia-nos com uma das mais belas vistas de Lisboa (o que espero possa ser confirmado pelas fotos abaixo) e já nos deixa ao lado das ruínas do Carmo, que merece uma visita igualmente lenta, sem pressa)
o Elevador de Santa Justa
o Elevador de Santa Justa
placa na base do Elevador de Santa Justa
placa comemorativa do centenário do Elevador de Santa Justa
interior do carro do Elevador de Santa Justa
interior do carro do Elevador de Santa Justa, todo forrado em madeira
vista das ruínas do Carmo, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
vista da Praça do Rossio, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
escadaria em caracol. feita de ferro, que dá acesso do elevador até o terraço do mesmo
                             vista das ruínas do Carmo, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista de Lisboa em direção ao Parque Eduardo VII, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista da Praça do Rossio, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista da Praça da Figueira, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista do Castelo de São Jorge, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista da Sé, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista do terraço de um prédio próximo, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista de telhados de Lisboa, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista das ruínas do Carmo, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
 vista da Praça do Rossio, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
no terraço do Elevador de Santa Justa
 vista panorâmica do Castelo de São Jorge, a partir do alto do Elevador de Santa Justa

 vista da rua de Santa Justa, a partir do alto do Elevador de Santa Justa
no terraço do Elevador de Santa Justa
uma das portas de saída do Elevador de Santa Justa

No livro Lisboa em Pessoa, o autor escreve: "Seguindo o vai e vem de Pessoa pela região do Chiado, chegamos ao Largo do Carmo, onde estão o Convento e a Igreja do Carmo, fundados em 1389 e parcialmente destruídos pelo terremoto de 1755. No século XIX, parte do antigo convento foi reerguido e converteu-se em instalação militar.
Transformado em quartel e Sede da Guarda Nacional Republicana, foi cenário de fatos marcantes durante a Revolução dos Cravos, que teve seu ápice em 25 de abril de 1974. Foi nesse largo que Marcelo Cetano, sucessor de Salazar, rendeu-se e consolidou o fim do regime ditatorial. Exilou-se anos mais tarde (...) no Rio de Janeiro" (onde está sepultado no Cemitério São João Batista.


em frente ao que foi a igreja do Carmo


"As mais belas ruínas de Lisboa. Assim podemos nos referir aos arcos que se alçam na paisagem da capital, vistos de toda a Baixa Pombalina, e que pertencem à antiga Igreja do Carmo, fundada em 1389". Assim começa a descrição do Museu Arqueológico do Carmo no livro Lisboa em Pessoa. "A construção veio abaixo com o terremoto de 1755 (considerado o mais forte em toda a história da Europa). Em 1864, foi fundado ali o Museu Arqueológico do Carmo, que abriga interessante acervo reunido pela eminente Associação de Arqueólogos Portugueses. Traz sarcófagos do século III, colunas romanas, painéis de azulejos barrocos, esculturas medievais, peças da pré-história lisboeta e, como destaque, o túmulo do rei Dom Fernando I, obra-prima gótica portuguesa esculpida por volta de 1380. O passeio inicia (e termina) sob os gigantescos arcos da antiga igreja, deixando a sensação de se estar num museu ao ar livre que deixa entrar o céu (e de fato é assim).
Em seu livro Lisboa: o que o turista deve ver, o poeta Fernando Pessoa escreve: "... saindo dela (da rua Garrett), e subindo um pouco à esquerda, chegamos ao Largo do Carmo, onde há muito existiu o Convento do Carmo, um mosteiro fundado em 1389 pelo grande condestável D. Nuno Álvares Pereira, em cumprimento de um voto feito na batalha de Aljubarrota. O fundador aí professou, morreu e foi sepultado, tendo sido mais tarde trasladado para a Igreja de São Vicente, onde o seu corpo ficou por muitos anos. Em março de 1918 foi levado para o Mosteiro dos Jerônimos, de onde de novo foi transferido para a pequena igreja da Ordem Terceira dos Carmelitas, onde agora se encontra."
"A igreja do Convento do Carmo era um edifício notável. Tinha naves majestosamente impressionantes, que foram parcialmente destruídas pelo terramoto".
"Mais da metade do antigo edifício conventual está agora ocupado pelo Quartel-General da Guarda Republicana. A antiga igreja e alguns anexos fazem hoje parte do Museu Arqueológico, onde há túmulos, estátuas, inscrições, peças heráldicas e, além disso, cerâmicas, moedas, etc. Devem ver-se com especial atenção a pia batismal do século XIV, onde foram batizados os filhos de D. João I, a bacia árabe do Convento da Penha Longa, um recipiente trazido de Azamor, uma estátua de mármore de D. Maria I, executada em Roma por José António de Aguiar para um monumento que nunca foi erigido, a cruz de São Lázaro, os túmulos de Rui de Menezes, de D. Isabel de Lima, de Gonçalo de Sousa e de São Frei Gil, uma janela dos Jerónimos, uma estátua de São João Nepomuceno, a arca tumular do Rei D. Fernando, azulejos do século XVI provenientes do convento de Chelas e do de Santo Elói, um modelo de madeira do túmulo do Condestável, que o terramoto destruiu, assim como muitas moedas, medalhas e outros objetos, entre o quais duas múmias. A entrada principal, formada por um portal com arcos quebrados (Fernando Pessoa dá a estes arcos a designação de 'arcos ogivais', termo usual na época, diz o tradutor, mas esse termo é ainda usado hoje em dia), é uma das mais belas do seu tempo."
placa e inscrição na parede à esquerda do portal da Igreja do Carmo
detalhe do portal da Igreja do Carmo
placa e inscrição ao lado direito do portal da Igreja do Carmo
o interior da da Igreja do Carmo























no interior da Igreja do Carmo, na parte descoberta
portal ao fundo do que era a igreja do Carmo, que dá acesso à parte coberta do museu
túmulo do Rei D. Fernando, na parte coberta do museu








retornando à parte descoberta do museu





(poema ao som dos sinos do meio-dia, em meio às ruínas da Igreja do Carmo, em Lisboa)

Altares, janelas, rosáceas,
imagens e pias e túmulos,
tudo por terra a ruir,
restando na Igreja do Carmo
colunas e arcos ogivais
como a apontar para os céus
a pátria a ser conquistada.


contemplando as ruínas

Aniversário nas Ruínas do Carmo

Que estranha sensação ao caminhar
por onde tantas vidas se findaram
numa fria manhã, tragicamente!
A morte e a ruína se fizeram
tão belas neste triste memorial
no qual eu venho celebrar a vida
nesta fria manhã, agradecido




Largo do Carmo
o portal da Igreja visto do Largo do Carmo
o convento do Carmo reconstruído usado como sede da Guarda Nacional Republicana 
inscrição no chão do Largo do Carmo, recordando a Revolução dos Cravos (1974)

Abaixo uma placa comemorativa e acima um poema de Sofia de Mello Breyner Andresen sobre a volta da democracia a Portugal

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Prossegui minha caminhada pelo Chiado, procurando os locais indicados por Pessoa e por João Correia Filho no livro Lisboa em Pessoa.








Encontrei o Teatro Nacional de São Carlos e, à sua frente, a casa onde nasceu Fernando Pessoa. 
Sobre o teatro, escreve o poeta: "... no Largo do Directório fica o Teatro de São Carlos, edificado em 1792, em homenagem à Princesa Carlota Joaquina de Bourbon, por iniciativa de vários comerciantes e capitalistas de Lisboa, sendo seu arquitecto José da Costa e Silva. As obras começaram a 8 de dezembro desse ano e seis meses depois estava sendo inaugurado a 30 de junho de 1793 com a ópera de Cimarosa La Ballerina Amante."
É um teatro de primeira classe, e aqui têm sido ouvidas as maiores celebridades vocais do mundo (...) O próprio edifício é interessante, com uma varanda sobre a arcaria coberta que constitui a entrada coberta do teatro. O vestíbulo, cujo tecto chegou a ter pinturas de Cirilo Wolkmar Machado, está agora limitado ao estuque com armas, decorações e várias inscrições com as datas em que ópera célebres foram ouvidas pela primeira vez, colunas de mármores e ornamentos afins de grande efeito artístico."
"A sala de espetáculos, de forma oval, é majestosíssima e bem concebida; a decoração, toda em dourados, é da autoria de Manuel da Costa; e as condições acústicas da sala são perfeitas."
"O Teatro de São Carlos (...) foi construído ao gosto do teatro homônimo de Nápoles".
O autor de Lisboa em Pessoa informa que este teatro foi construído sobre o lugar onde outro existia, destruído pelo terremoto de 1755.   



Sobre a casa onde nasceu Fernando Pessoa, João Correia Filho escreve: "Em 13 de junho de 1888 nasceu Fernando Pessoa, bem em frente ao Teatro Nacional de São Carlos. Embora ele não faça nenhuma menção ao fato no livro Lisboa: o que o turista deve ver, em sua obra há várias referências à infância passada ali, "na casa velha sossegada, ao pé do rio", onde viveu até os cinco anos. Do lado de fora, uma placa anuncia o fato, timidamente. O que chama a atenção é a estátua do belga Jean-Michel Folon, inaugurada em 2008, durante as comemorações de 120 anos do nascimento do poeta. Com mais de dois metros de altura, traz um home cujo rosto é um livro - muito sugestivo". 

no quarto andar desta casa nasceu a 13 de junho de 1888 o poeta Fernando Pessoa
a placa comemorativa
a escultura do belga Jean-Michel Folon




o teatro
rua lateral acima do teatro 

o imenso e interessante Teatro Estúdio Mario Viegas, na rua lateral e acima do Teatro de São Carlos


o rio Tejo ao longe, a partir da rua lateral ao Teatro de São Carlos
"na casa velha sossegada, ao pé do rio"



a arcaria sob a varanda, que constitui a entrada coberta do teatro





perspectiva da casa onde nasceu Fernando Pessoa

Pessoa escreve, após passar pelo Teatro de São Carlos: "Entremos agora na Rua Garret e subamos para o Largo das Duas Igrejas (Largo do Chiado, como é conhecido hoje). À esquerda fica o monumento ao Poeta Chiado, nome popular dado a um frade do século XVI, António do Espírito Santo, que abandonou o hábito para se tornar uma espécie de encarnação do espírito galhofeiro da época e se manifestar no poeta popular favorito; os poemas que dele ficaram revelam considerável mérito. Esta estátua é de autoria do escultor Costa Mota (tio); foi erigida por ordem da Câmara Municipal e inaugurada a 18 de dezembro de 1925.
Sobre este largo, o autor de Lisboa em Pessoa diz que: "Há duas versões que explicam o nome desse largo e do bairro.Uma delas diz que se deve ao chiar das rodas das carroças que subiam suas ruas íngremes. Outra diz que o nome se deve ao Padre António Ribeiro, conhecido como o 'poeta Chiado', o qual morreu em 1591 e deixou uma obra jocosa, irônica, tal como sua estátua, fincada bem no centro do largo, ao lado da movimentada estação de Baixa-Chiado e do Café A Brasileira. Quase impossível não notá-lo. Repare também, que no chão. as pedras da calçada formam um desenho estilizado de Pessoa.


a Praça Luiz de Camões, vista do Largo do Chiado


Do livro Lisboa em Pessoa: "Quando o emblemático Café a Brasileira foi inaugurado em 1905, Pessoa tinha 17 anos e estava voltando de um período de nove anos vividos em Durban (na África do Sul). Pouco tempo depois, seria um dos frequentadores assíduos desse verdadeiro antro de poetas e intelectuais, que se reuniam em tertúlias, acaloradas discussões e goles de café. O poeta cita o distinto estabelecimento em um de seus diários. Nos anos de ferro do salazarismo, era ali que os inimigos da ditadura se reuniam, praticamente às escondidas."
"Quanto ao nome, sabe-se que o café o recebeu porque o seu primeiro proprietário, Adriano Telles, importava café do Brasil para servir aos lisboetas, algo que fez muito sucesso. Hoje, é ponto inconteste para quem visita Lisboa e um ótimo local para marcar um encontro - por sua localização e seu excelente café, é claro. Vale a visita, ainda que seja apenas para conhecer a sua decoração em madeira nobre e o charme de seus espelhos e suas pinturas. Do lado de fora, além da curiosa fachada (com a figura de um homem bebericando uma xícara do precioso líquido), chama a atenção a estátua de Fernando Pessoa, sentado em uma mesa de ferro, como se nos convidasse a tomar assento ao seu lado. Algo realmente convidativo. (...) O poeta está sentado, com as pernas cruzadas, de chapéu e apoiado em uma pequena mesa. Ao seu lado, há outra cadeira de metal, que é ocupada constantemente pelos turistas no afã de tirar uma foto ao lado do escritor."
estátua de Fernando Pessoa, em frente ao Café A Brasileira, obra em bronze de autoria do artista Lagoa Henriques
a fachada do Café A Brasileira

almoçando no restaurante do Café A Brasileira - cardápio: Bacalhau assado com batatas aos murros

A Igreja de Nossa Senhora da Encarnação, junto com a Igreja dos Italianos, Nossa Senhora do Loreto, uma em frente à outra, no Largo do Chiado, davam nome ao largo como Pessoa o menciona - Largo das Duas Igrejas. Abaixo fotos da Igreja da Encarnação. Mais adiante, fotos da Igreja do Italianos, que no momento em que vistei aquela, esta não estava aberta. 








o Anjo de Portugal, segundo os videntes de Fátima

Fernando Pessoa: "Entramos agora na Praça Luís de Camões, no meio da qual se encontra o monumento ao grande poeta épico, obra do escultor Vitor Bastos, inaugurada em 1867. A estátua é de bronze e o pedestal exibe as estátuas de pedra do historiador Fernão Lopes, do cronista Gomes Eanes de Azurara, do cosmógrafo Pedro Nunes, dos historiadores Fernão Lopes de Castanheda e João de Barros e dos três poetas Jerónimo Corte-Real, Vasco Mouzinho de Quevedo e Francisco de Sá Menezes. O monumento tem 11 metros de altura e o espaço livre em que se encontra está rodeado de árvores, onde uma legião de visitantes alados faz as vezes das folhas de inverno."
Lisboa em Pessoa: "A Praça Luís de Camões é uma das grandes referências do bairro do Chiado, principalmente por ser ponto de convergência de diversas de diversas linhas de ônibus e elétricos que conectam a região ao Bairro Alto, à Baixa Pombalina e às margens do rio Tejo".








A rua das Flores faz parte de um outro roteiro, que tem por referência o escritor Eça de Queiroz, e é apresentado no livro Lisboa em Pessoa. "Embora não seja uma rua com grandes atrativos aparentes, a Rua das Flores parece ser bastante inspiradora. Ela foi retratada em A Tragédia da Rua das Flores, livro de Eça de Queiroz inspirado num assassinato cometido no local pelo político Vieira de Castro, que matou sua mulher ao saber que vinha sendo traído. O traidor era José Maria de Almeida Garrett, sobrinho do escritor Almeida Garrett, se é que esse parentesco pode ser considerado coincidência literária. Inspiradora é também a visão que se tem do rio Tejo, no fim de tarde, quando o sol reflete sua luz amarela sobre as águas lentas que descem rumo ao mar.

a rua das Flores

Lisboa em Pessoa: "É a mais pura verdade! Eça de Queiroz está com uma mulher seminua a seus pés, com os seios à mostra, de braços abertos. Mas calma, eu explico: o autor da estátua, Teixeira Lopes, inspirou-se numa passagem do livro A Relíquia, no qual o escritor representa a verdade como uma figura feminina. Inaugurada em 1903, três anos após a morte do escritor, a está tua ainda traz em sua base a frase que se tornou subtítulo do livro - 'Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia'."





placa indicativa no Chiado
belo edifício na rua da Trindade, todo revestido em azulejos

Lisboa em Pessoa: "Eça de Queiroz chamava-o (o Teatro da Trindade) de o 'Teatro de Lisboa' e fez inúmeras menções ao edifício que ainda mantém a originalidade arquitetônica do século XIX. Foi fundado em 1867 e chegou a ser um dos mais modernos espaços da dramaturgia portuguesa. Em 1888, foi ali que se tornou pública a primeira edição de Os Maias, uma das grandes obras de Eça, com várias cenas significativas ocorridas nesse espaço. Hoje, o teatro mantém uma programação de espetáculos bastante ativa. 

fachada do teatro da Trindade, no Chiado
rua Anchieta, onde acontece aos sábados a Feira dos Alfarrabistas
loja de artigos portugueses típicos, A Vida Portuguesa, na rua Anchieta
elétrico cruzando a Praça Luiz de Camões
a igreja N. Sra. do Loreto dos Italianos, no Largo do Chiado






bela fachada de prédio no Chiado


Fernando Pessoa: "Seguimos agora para a Igreja de São Roque, no Largo Trindade Coelho. Esta igreja data dos últimos anos do século XVI, tendo sido seu arquitecto Filipe Terzi, tendo sido reconstruída depois do Grande Terramoto. O interior do templo é interessante, especialmente se considerarmos o seu teto de madeira, pintado em 1588, os mosaicos decorativos, os azulejos policromos e a talha dourada, as belas pinturas de Bento Coelho da Silveira, Gaspar Dias, Vieira Lusitano e outros, e os vários túmulos, entre o quais os de D. António de Castro, filho de D. João de Castro (1632), Dr. Francisco Soares (1617), D. Tomás de Almeida, primeiro patriarca da Lisboa, e Padre Simão Rodrigues (1579), que instituiu em Portugal a Companhia de Jesus."
"Mas o atributo importante, ou melhor, o atributo único desta igreja é a Capela de São João Batista, que foi executada por ordem de D. João V em Roma, onde foi sagrada pelo Papa Bento XIV, em 1744, tendo sido montada na igreja em 1749. É notável pelo seu valor, não só material como artístico, e por não haver talvez em mais nenhuma parte nada do género que se lhe possa comparar. O trabalho arquitectónico é dos célebres arquitetos italianos Salvi e Vanvitelli, a quem se devem também as mais belas obras do género no seu próprio país. Para a execução desta obra contribuíram os melhores artistas do tempo, no tocante a escultura, mosaico, serralheria artística e outras artes."
"A capela é uma obra de suprema arte, abundando em todo o género de aplicação de mármore e de bronze, aquelas de uma maravilhosa variação de cores, estas com todas as espécies de ornamentos, emblemas, armas reais, monogramas, etc. O altar é uma maravilha artística, em que foram utilizados os ais variados e belos de todos os mármores italianos; o resultado é um efeito de conjunto que merecidamente perpetua a memória de um rei português que também soube ser artista".
"Para além do arco e dos confessionários, também são bem merecedores de atenção os quadros representando o Baptismo do Senhor, o Pentecostes e a Anunciação, executados em mosaico por Moretti sobre cartões de Massucci. As portas laterais e as cancelas não são menos belas."
"O turista com sentido artístico deve deixar-se atrair pelo magnífico lampadário de braços, de prata e bronze cinzelados, obra-prima de artistas como Simone Miglie, Ricciani e Pietro Werschaffelt, assim como pelas peças compósitas do altar, de que fazem parte seis castiçais e uma cruz de bronze dourado."
O Museu de Arte Sacra, anexo à igreja, não cheguei a visitar, pois já estava tarde e teria menos de uma hora para fazê-lo. Assim, voltarei lá outro dia com mais calma e tempo para conhecê-lo e apreciar ainda mais essa belíssima igreja.


detalhe de uma coluna em mármore, semelhante à marchetaria 


relicários

a capela de São João Batista






fachada da igreja, simples demais, escondendo um tesouro artístico em seu interior
a fachada do Museu de Arte Sacra ao lado da igreja de São Roque
um quiosque do século XIX em frente à Igreja de São Roque
detalhe do quiosque, com foto de época
uma das inúmeras luminárias de Lisboa, que me encantam pela beleza, inclusive com uma caravela encrustada na mão-francesa que a suporta e uma coroa no alto do poste
o elevador da Glória, que liga a avenida da Liberdade ao Miradouro de São Pedro de Alcântara


O Jardim Antonio Nobre fica anexo ao Miradouro de São Pedro de Alcântara
Jardim Antonio Nobre

Lisboa em Pessoa: "Pessoa chamava o local de terraço, mas este passou a ser chamado miradouro. Em português do Brasil, o chamaríamos mirante. Não importa, São Pedro de Alcântara é unânime em um aspecto: brinda-nos com uma das mais belas panorâmicas de Lisboa. De lá de cima se vê, radiante, o Castelo de São Jorge, o Miradouro da Graça, boa parte da cidade baixa e, encostado a ela, o rio, largo e calmo. Para embelezar ainda mais a vista, há um painel de azulejos que nos mostra cada construção, cada edifício, cada ponto que mereça ser reconhecido. No fim de tarde, o sol se põe em nossas costas e deixa tudo ainda mais incandescente. Um espetáculo para fotógrafos profissionais e aspirantes. Um desvario para olhos nus".
"Na parte mais baixa do mirante, há colunas e bancos para descansar, com um pequeno jardim. Ideal para namorar e pensar: 'que maravilha estar aqui, nesta cidade tão linda, sob essa luz maravilhosa, etc., etc.' Se você estiver sozinho, aproveite a companhia do jornalista Eduardo Coelho, que não está em pessoa, mas em estátua. Morreu em 1889 e foi o fundador de um dos principais jornais de Lisboa, o Diário de Notícias. Para que ele também não ficasse sozinho, colocaram a lado a estátua de um menino jornaleiro que corre à sua frente, indicando que aquele bairro já teve vocação para a indústria jornalística."
Quando o sol vai embora, o miradouro vira um grande salão de encontro, tomado por jovens que fazem do lugar o ponto de partida para a divertida noite do Bairro Alto."
Fernando Pessoa: "Saímos (do Museu de Arte Sacra ao lado da Igreja de São Roque) e voltamos à direita, e um pouco mais à frente encontramos São Pedro de Alcântara, um terraço de onde se obtém uma das mais belas vistas de grande parte da cidade. Daqui se podem ver várias colinas da parte oriental de Lisboa - Castelo, Graça, Senhora do Monte, Penha de França -, boa parte da cidade baixa e, encostado a ela, o rio, largo e calmo, tendo à frente, na margem sul, o Barreiro, Alcochete, etc. À noite, o panorama é igualmente extraordinário. Deixando este terraço cheio de árvores e com um pequeno monumento ao jornalista Eduardo Coelho, e descendo uma escadaria de pedra, encontramo-nos no sítio a que poderíamos chamar o piso inferior do terraço - um belo jardim com árvores exóticas, estátuas, lagos e uma biblioteca pública. É um lugar ideal para repousar e meditar".
estátua do jornalista Eduardo Coelho
o Castelo de São Jorge visto do Miradouro de São Pedro de Alcântara 
o terraço inferior do miradouro


a Sé e o rio Tejo vistos do Miradouro de São Pedro de Alcântara

o jardim inferior ao miradouro




um estandarte de Natal muito comum em Lisboa, exposto em um edifício na rua D. Pedro V
uma viela transversal à rua D. Pedro V

O Poeta Fernando Pessoa, em seu livro sobre Lisboa fala de uma praça conhecida a seu tempo como Praça Rio de Janeiro. Pela descrição da praça e de um cedro em especial, constatei tratar-se do hoje conhecida Praça do Príncipe Real. Eis o que escrevi Pessoa: "Subindo à Rua D. Pedro V, vemos logo um outro jardim, na Praça Rio de Janeiro; é um dos mais belos jardins de Lisboa devido ao seu cuidadoso plano e ao cuidado com que é tratado. Este jardim contém vários belos espécimes de árvores, sendo o mais notável um desenvolvido cedro, cujos ramos, apoiados numa armação de ferro, cobrem um espaço suficiente para lá caberem várias centenas de pessoas."
a Praça do Príncipe Real, antiga Praça Rio de Janeiro, ao anoitecer
parte da copa do cedro e dos apoios de ferro




Retornei em meu caminho, passando pelos mesmos lugares da ida, tentando fotografar o anoitecer em Lisboa


o painel de azulejos que indica os pontos de interesse de Lisboa a partir do Miradouro de São Pedro de Alcântara












um interessante veículo antigo que vende cds de Fado, fazendo um trabalho de resgate e divulgação da música símbolo de Lisboa e de Portugal


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