sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

PRAÇA DO ROSSIO E PRAÇA DA FIGUEIRA, COM ROTEIRO DA MOURARIA - 10 de janeiro de 2014


No guia sobre Lisboa escrito por Fernando Pessoa, provavelmente em 1925, o poeta comenta a Praça do Rossio: "Chegamos agora à Praça D. Pedro IV geralmente conhecida por Rocio ou Rossio. É um vasto espaço quadrangular, contornado em todos os seus lados excepto o do Norte por edifícios pombalinos; é o coração de Lisboa, passando por aqui quase todas as carreiras de transporte. No meio dessa praça fica a estátua de D. Pedro IV, que data de 1870; foi esculpida por Elias Robert sob projeto de Davioud."
"Este monumento é um dos mais altos de Lisboa, medindo mais de 27 metros de altura. Compreende uma base de pedra, um pedestal de mármore, uma coluna de mármore branco e uma estátua de bronze. A parte inferior contém quatro figuras alegóricas, representando a Justiça, a Força, a Prudência e a Temperança, assim como os escudos das dezasseis principais cidades portuguesas. A norte e a sul deste monumento há dois lagos com repuxos de bronze, rodeados de canteiros de flores".
"O grande movimento e circulação que se vêem no Rossio são devidos ao facto de a maior parte das linhas de elétrico passar por esta praça, ao grande número de lojas, hotéis e cafés que ela contém, e também à proximidade da Estação Central de Lisboa da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses".
No livro Lisboa em Pessoa sobre a Praça do Rossio: "É impossível dizer quantas citações literárias há desse local, quantos personagens passaram por ali, quantos escritores o descreveram. O fato é que guarda muitas histórias".
"Em mais de seis séculos de história, a região do Rossio já foi pelourinho, feira-livre, arena pública, praça de guerra, palco de fogueiras da Inquisição e local de encontro de intelectuais (por seus vários cafés e restaurantes tertulianos). É ali que estão o Café Nicola e a Pastelaria Suiça, locais de terúlias que reuniram muitos nomes das letras, entre eles Bocage, que era frequentador assíduo do Nicola. O Café Martinho (do Rossio), frequentado por Pessoa, funcionava nessa mesma praça, mas já não existe mais. Fechou em 1968."
"É também o local onde se encontra o Teatro Nacional Dona Maria II, que oferece vasta e atualizada programação. A praça, bastante movimentada e viva, é também um ponto de convergência de ônibus, de elétricos e de gente, muita gente, com muitas histórias".  

a Praça do Rossio

Fernando Pessoa: "Do lado norte da praça fica o Teatro Nacional Almeida Garrett, que data de 1846 e tem risco do arquitecto italiano Fortunato Lodi. A fachada deste edifício é notável; inclui seis colunas monumentais que integravam outrora a igreja de S. Francisco das Cidade. A estátua de Gil Vicente e as de Tália e Melpómene são de Assis Rodrigues, sobre esboços de António Manuel da Fonseca; as figuras representando Apolo e as Musas são do mesmo artista, enquanto outras figuras, representando alguns dramaturgos, e os relevos figurando as quatro fases do dia foram debuxadas por Fonseca e esculpidas por Assis Rodrigues. Todas elas tornam o edifício muito interessante, sendo a própria sala de teatro admirável, com o tecto pintado por Columbano. A entrada também é muito bela."
"Foi mais ou menos neste mesmo local que se situou a antiga Inquisição".
Lisboa em Pessoa: "A história do Teatro Nacional Dona Maria II confunde-se com um nome ligado à literatura e à dramaturgia portuguesa: Almeida Garrett. Em 1836, o escritor foi convocado por uma portaria régia a estruturar a Arte Dramática portuguesa e inseri-la no efervescente cenário europeu. Garrett criou, então, a Inspeção Geral dos teatros e Espetáculos Nacionais e o Conservatório Geral de Arte Dramática e instituiu prêmios de dramaturgia, lançando as bases para a construção de um Teatro Nacional. Dez anos depois, em 1846, era inaugurado o Teatro Nacional Dona Maria II, citado por Pessoa como Teatro Nacional Almeida Garrett, seu nome na época".
"Em 1954, foi palco de um imenso incêndio que o destruiu quase por completo, Restaurado e modernizado, recebe espetáculos teatrais do mais alto nível e cumpre o papel que lhe foi designado por Garrett há mais de 150 anos." 
o Teatro Nacional D. Maria II, antigo Almeida Garrett
a praça do Rossio e, ao centro de fundo, o Largo de São Domingos
uma das duas fontes da Praça do Rossio

um dos chafarizes da Praça do Rossio, com o Teatro Nacional ao fundo
o monumento em homenagem a D. Pedro IV




D. Pedro IV de Portugal, I do Brasil

o Café Nicola



o Arco do Bandeira






a Rua Augusta vista da Praça do Rossio, tendo ao fundo o Arco da Praça do Comércio

a Confeitaria Suiça

Pessoa: "O edifício da estação (Pessoa a chama de Estação Central de Lisboa da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses) fica defronte ao lado oeste do teatro (o Teatro Nacional). a fachada é de estilo "Manuelino", profusamente dentellé, com grandes portas envidraçadas em forma de ferradura. O relógio que a encima é eléctrico e está ligado aos do interior da estação."
"O edifício desta Estação de Caminho-de-Ferro, que foi projectado pelo arquitecto José Luís Monteiro, foi começado em 1887 e terminado três anos mais tarde, tendo sido inaugurado oficialmente a 11 de junho de 1890."
Lisboa em Pessoa: "É quase impossível não memorizar sua fachada. As portas lembram uma grande ferradura e os detalhes são todos no estilo neomanuelino, com formas que nos remetem à arquitetura moura. Construída no fim do século XIX, a estação do Rossio não tem importância apenas por sua imponência arquitetônica, mas também porque dela partem trens para várias cidades da grande Lisboa e do país, incluindo as composições que nos levam a Sintra, um dos destinos sugeridos por Pessoa. É um ótimo local para marcar encontros, por ser central, próximo a duas estações do metrô, além de ser bem conhecida pelos lisboetas. E, como eu disse, é fácil de memorizar". 
a estação de trem do Rossio



escultura sobre o Fado, em frente à Estação do Chiado

No interessante livro Lisboa Insólita e Secreta, de Vitor Manuel Adrião, o autor comenta a estátua de D. Sebastião entre as duas portas principais da Estação do Rossio: "Ao centro da fachada principal da gare central da Estação do Rossio, no cruzamento de dois arcos em ferradura está a estátua de D. Sebastião, o rei desaparecido em África em 1578, na batalha de Alcácer Quibir."
"Sendo a estação ferroviária do Rossio sítio de "espera" e de "esperança", não há melhor lugar para fazer figurar o rei desaparecido que ditou o destino fatal de Portugal e a perda da independência durantes 60 anos por ocupação de Castela".
"O exterior deste edifício de profusão neomanuelina foi desenhado pelo arquitecto José Luís Monteiro em parceria com Adães Bermudes, sendo a estação construída em 1886 e inaugurada em 23 de novembro de 1890, com o nome de Estação Avenida. Obra arquitectónica arrojada para a época, uma vez que se incluiu numa estação de caminho de ferro um estilo arquitectónico e uma corrente estética que até aí só tinham sido utilizados em edifícios reais, nobres ou conectados com o poder".
"Junto a esta estátua foi assassinado um outro "rei-presidente", Sidónio Pais, em 14 de dezembro de 1918 e à época aclamado por muitos como "D. Sebastião reaparecido"."
estátua de D. Sebastião, entre as duas portas principais da Estação do Rossio



Pessoa: "A dois passos a leste do Rossio, descobrirá a Praça da Figueira., que é o mercado central de Lisboa e está construído num local outrora ocupado pelo Hospital de Todos-os-Santos, pelo convento de São Camilo e por outros edifícios. Este mercado é muito popular e animado, é de ferro, com uma cobertura de vidro, e é composto por um grande número de pequenas lojas e quiosques, voltados para a rua ou para o interior do edifício. A melhor altura para o ver é de manhã, em que ele nos oferece um espetáculo animado."
Lisboa em Pessoa: "Onde havia o Hospital de Todos-os-Santos, após o terremoto de 1755, o Marquês de Pombal criou um Mercado Central, que permaneceu ali até a década de 1950, quando sua estrutura de metal foi retirada. Os mais velhos recordam-se desse tempo, lembrado hoje pelo movimento constante de pessoas que vêm e vão, numa praça onde tudo acontece, onde convergem linhas de elétricos e ônibus, onde há muitos cafés e restaurantes. É também um lugar para se provar as deliciosas castanhas assadas, uma verdadeira instituição cultural e gastronômica da cidade, vendidas por ambulantes em vários pontos desse quadrilátero. É só seguir a fumaça que deixa no ar um odor suave, tipicamente lisboeta."
"Quase  no centro da praça está a estátua de Dom João I, erguida na década de 1970. Se quiser parar para descansar ou comer um doce português de qualidade, basta olhar na direção em que aponta o rei e você verá a Confeitaria Nacional. Tradicionalíssima, fundada em 1829, tornou-se referência na preparação do afamado bolo-rei, além de produzir outros deliciosos doces portugueses. Acompanhados de um bom café, é claro".

(1582) – Antiga Praça da Figueira – Lisboa/Portugal Nasceu em 1755, no terreno das ruínas do Hospital de Todos os Santos, impondo-se como mercado central e destinado à venda de frutas e legumes. Passou entretanto por vários nomes: Horta do Hospital, Praça das Ervas, Praça Nova e Praça da Figueira. De um local de bancadas diárias passou a praça fixa, com barracas arrumadas e um poço próprio. Ao longo dos tempos, foi sofrendo algumas alterações consoante as necessidades da população. Assim, em 1835, é arborizada e iluminada, em 1849 foi-lhe colocada uma cerca gradeada, coberta e com 8 portas e em 1882 foi aprovado o projecto da nova praça, que consistia num edifício rectangular, com estrutura metálica e ocupando uma área de quase 8 mil metros quadrados. Da venda de fruta e legumes, passou-se à transacção de outros produtos alimentícios necessários à população, fazendo da baixa lisboeta um local com um constante fervilhar de vida. Desde logo, a praça tornou-se um dos emblemas de Lisboa, quer pela sua construção, quer pela sua localização no centro da cidade, quer ainda pela realização de verdadeiros arraiais por altura dos santos populares, transformando-a num verdadeiro teatro. Em 1947, a vereação da altura decidiu o fim da praça, prevendo o alargamento da rede viária de Lisboa, que incluía a demolição do Socorro e zona baixa da Mouraria como forma de escoamento de trânsito, aproximando a cidade de Lisboa aos padrões europeus. Em 1949 festeja-se o último Stº António, procedendo-se de seguida - a 30 de Junho - à demolição do edifício. 1968 é o ano da assinatura do contrato para a construção da estátua equestre de D. João I. Foi um importante local de cultura e divertimento da capital... bailes, marchas e eventos normais da êpoca. Julgo que mais tarde foi enviada para Moçambique. PARABÉNS Á ACTRIZ, COLEGA E AMIGA ISABEL DAMATTA Um doce e colorido fim-de-semana, pese o tempo não querer ajudar Façam o “sacrifácio” de ser felizes Beijo/Abraço Luís T - Fotolog
imagem extraída da internet mostrando o edifício do Mercado da Figueira, que não existe mais

a Confeitaria Nacional, aberta em 1829
monumento a D. João I na Praça da Figueira






Saindo da Praça da Figueira, dirigi-me a uma outra praça, próxima,e que não consta em nenhum dos dois livros base que estou seguindo. É a Praça Martins Moniz, já na área da Mouraria, o bairro mouro a partir do qual se chega ao Castelo de São Jorge. Pelo que pude observar, a praça está recentemente remodelada, com fontes, jardins, quiosques. Atravessando a praça em direção ao Castelo, do outro lado da rua encontrei uma pequena igreja, a Ermida Nossa Senhora da Saúde e, ao lado dela, um painel com a sugestão de um roteiro turístico pela Mouraria. 

a Escadinha da Saúde, que sobe em direção ao Castelo de São Jorge

o painel com roteiro para o percurso histórico pela Mouraria





a Ermida de Nossa Senhora da Saúde



o portal manuelino do prédio onde funcionou no passado o Colégio dos Meninos Órfãos
o portal manuelino
monumento ao Fado, cuja origem deu-se na Mouraria

rua da Mouraria
rua da Mouraria
o Castelo de São Jorge visto da Praça Martim Moniz

Retornando em meu caminho, voltei à Praça do Rossio e dali andei até o Largo de São Domingos a fim de visitar a igreja do mesmo nome, em um momento sem missa, para poder fotografá-la com calma. 


Na postagem do dia 08 eu coloquei os comentários dos meus roteiros e agora posto os que encontrei no livro Lisboa Insólita e Secreta: "A Igreja de São Domingos é a maior de Lisboa e testemunhou as grandes cerimônias religiosas, as exéquias nacionais e reais, assim como as solenidades dos baptizados e coroações reais."
"A sua fundação recua à época de D. Afonso III (1242), com remodelações profundas no período de D, Manuel I. Anexada ao convento dominicano e ao Tribunal do Santo Ofício, a partir do século XVI, rapidamente esta igreja se tornou sinónimo de terror tanto para os judeus de Lisboa como para todos que discordassem da omnipotente prepotência eclesiástica. Era neste templo que a Inquisição dominicana celebrava os seus autos-de-fé, condenando a serem queimados vivos nas fogueiras, erguidas no Terreiro do Paço, os pobres desgraçados que haviam ousado discordar da Igreja."
"A Igreja de S. Domingos está associada à histórica matança de S. Domingos do dia 15 de janeiro de 1503, dia em que foram chacinados pela populaça, acirrada pelos frades, milhares de judeus e cristãos-novos por razões que se prendiam mais com a cobiça de seus bens pecuniários do que propriamente religiosas. Na ocasião em que se celebrava a missa, um frade apontou um grande resplendor sobre o crucifixo, irrompendo os fiéis aos gritos de 'Milagre! Milagre!', tendo um cristão-novo contrariado não se tratar de milagre mas de simples reflexo do sol. Os religiosos enfureceram-se e açularam a fúria popular que extravasou por toda a Lisboa numa matança horrorosa que não poupou velhos, doentes ou crianças. O número da mortandade ascendeu a mais de 2.000 pessoas."
"Quando sobreveio o terramoto de 1755, esta igreja foi fortemente abalada e, de entre todos, o edifício do Tribunal da Inquisição foi o primeiro a ruir completamente. Reconstruiu-se o templo; porém, na noite de 13 de agosto de 1959 deflagrou nele um violento incêndio que destruiu completamente o seu interior".
Como já sabemos, no processo de restauração dessa igreja, decidiu-se manter muitas marcas da destruição causada pelo incêndio.


detalhe das colunas marcadas pelo efeito das chamas








Nenhum comentário:

Postar um comentário