quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

SANTARÉM - 23 de janeiro de 2014


Fui a Santarém com duas finalidades principais: ver e orar diante do Milagre Eucarístico de Santarém, o segundo mais importante e conhecido do mundo, após o de Lanciano, e conhecer o Bispo de Santarém, D, Manuel, com quem mantive contato por e-mail há alguns anos, quando surgiu a possibilidade de uma experiência missionária minha em Santarém. Eu pretendia passar ao menos um ano trabalhando em Santarém, mas não tive a autorização de D. Luciano. Hoje, o caminho missionário que era Europa => Terceiro Mundo, agora tem-se invertido - Terceiro Mundo => Europa, devido à queda das vocações. Na época, D. Manuel disse-me que não havia previsão de ordenações presbiterais em sua diocese. Não o avisei de minha ida, mesmo porque decidi isso de manhã, por isso, ao final do dia, quando fui à Cúria, ele não estava. Mas deixei-lhe um bilhete.
































Na Igreja do Santíssimo Milagre, conheci a senhora que lá trabalha, Dona Odete, que foi muito prestativa, delicada e atenciosa, mostrando-me a igreja, o pequeno museu e, o principal, o Milagre Eucarístico, diante do qual orei por todos os que pediram orações, especialmente pelos enfermos.
Infelizmente não se pode tirar fotos dentro da Igreja e, assim, levo as imagens em meu coração.
A Igreja do Santíssimo Milagre, também conhecida como Igreja de Santo Estêvão, situa-se no centro histórico de Santarém, na freguesia de Marvila. Este templo, fundado no século XIII, adquiriu o seu atual aspecto maioritariamente renascentista no século XVI, em resultado da destruição provocada por um sismo. A igreja passou a ser designada pela actual denominação após a ocorrência do Santíssimo Milagre, em 1266, na paróquia que então a tinha como sede. Desde então, a relíquia do Milagre, objeto de grande veneração popular, permanece aqui guardada. A igreja é Monumento Nacional desde 1917.
A igreja foi sagrada em 1241, sendo inicialmente denominada de Igreja de Santo Estêvão. Desde a sua fundação, o templo acolheu a sede da paróquia de Santo Estêvão, uma das mais importantes e abastadas da então vila de Santarém. Esta paróquia haveria de ser extinta já no século XIX, sendo então integrada na de Marvila. Em 1266, com a ocorrência do Milagre, o templo passou a ser conhecido por Santíssimo Milagre, acolhendo a partir de então as relíquias sagradas.
Reza a lenda do Milagre que uma mulher roubara uma hóstia consagrada durante a comunhão, pretendendo utilizá-la em práticas de bruxaria. Porém, a hóstia sangrou durante todo o percurso e, uma vez escondida, inundou de luz toda a habitação, revelando a sua presença e conduzindo a pecadora ao arrependimento. A hóstia milagrosa foi engastada numa custódia de prata, permanecendo guardada no templo até hoje, com excepção do curto período das Invasões Francesas, quando foi retirada da cidade.
A atual configuração renascentista da igreja é o resultado de uma campanha de reconstrução quinhentista, levada a cabo entre 1536 e 1547, e que foi motivada pela dimensão dos estragos causados pelo terremoto de 1531. A esta intervenção sucederam outras, maneiristas e barrocas, nos séculos XVII e XVIII, das quais resultou, para além do desvirtuamento de parte da obra quinhentista, o revestimento de azulejos policromos, o coro e os retábulos de talha dourada, estes da primeira metade do século XVIII.




Dona Odete e eu ao lado da Igreja Do Santíssimo Milagre


oliveiras em frente à Igreja do Santíssimo Milagre
a fachada



uma porta mourisca














Monumento a Pedro Álvares Cabral, em frente à Igreja da Graça onde ele está sepultado
A Igreja de Santa Maria da Graça, igualmente conhecida como Igreja da Graça ou como Igreja de Santo Agostinho, localiza-se no Largo Pedro Álvares Cabral (também conhecido como Largo da Graça), em pleno centro histórico da cidade de Santarém. A igreja, inserida no conjunto do convento dos Eremitas Calçados de Santo Agostinho, é um dos monumentos mais emblemáticos da cidade, constituindo um dos mais importantes exemplares da arte gótica no país. Neste templo, Monumento Nacional desde 1910, encontra-se sepultado Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil.
A igreja é o último grande monumento gótico monacal que a cidade atualmente conserva, tendo a sua construção ficado a dever-se à iniciativa dos agostinhos de Lisboa. Esta ordem religiosa instalou-se na cidade a partir de 1376, conseguindo o patrocínio de vários membros importantes da nobreza escalabitana, entre os quais os primeiros Condes de Ourém. D. João Afonso Telo de Menezes e D. Guiomar de Vilalobos, sua esposa. Os Condes de Ourém ofereceram mesmo guarida aos agostinhos, que permaneceram instalados no seu solar até à inauguração do templo. As obras da igreja iniciaram-se em 1380, mas as dificuldades econômicas e a própria história conturbada da família fundadora levaram a que apenas ficassem concluídas no segundo quartel do século XV.
Apesar de concluídas as obras de construção, a campanha artística prosseguiria nos séculos seguintes, tendo a igreja sido várias vezes objecto de renovação. Continuando a tradição funerária do espaço, muitos foram os poderosos escalabitanos que aqui se fizeram enterrar. Cerca de 1437, foi executado o túmulo de D. Pedro de Menezes, governador de Ceuta, conde de Vila Real e de Viana do Alentejo e neto dos fundadores, e de D. Beatriz Coutinho, sua esposa. Em 1535, foi edificada a Capela do Senhor Jesus dos Passos, na nave lateral sul, sob o patrocínio de D. Mécia Mendes de Aguiar, esposa do navegador Gonçalo Gil Barbosa. Na segunda metade do século, construiu-se a capela de D. Gil Eanes da Costa, presidente do Desembargo do Paço e da Câmara de Lisboa, com assento no Conselho de Estado de Filipe II de Espanha. Para esta obra, desmantelada pelo restauro do século XX, o promotor escolheu nomes cimeiros da arte nacional, como o arquiteto  Pedro Nunes Tinoco e o pintor Diogo Teixeira. Os atuais tetos de madeira foram colocados em meados do século XVI, após o desmoronamento das abóbadas das naves, tendo o transepto sido então adequado ao estilo manuelino. A Capela de São Nicolau Tolentino foi edificada já no final do século, em 1594. Durante os séculos XVII e XVIII, foram executadas decorações várias nos altares e nas capelas, nomeadamente pinturas, painéis cerâmicos e retábulos.
Este templo apresenta uma fachada principal de três panos, definidos por contrafortes. O pórtico, em querena, é formado por cinco arquivoltas de arcos quebrados, de cairéis, sobre colunas capitelizadas de motivos vegetalistas, e é envolvido por um painel de pedraria bordada, onde entre linhas de arcadura trilobadas se releva o escudo do fundador. O conjunto é rematado, ao alto, por um friso de motivos florais, interrompido ao centro pelo gomo terminal do arco de querena. A enorme rosácea, que domina toda a frontaria, foi esculpida numa só pedra.
O interior da igreja é de três naves amplas, de cinco tramos cada, separadas por doze colunas capitelizadas de onde irrompem arcos ogivais. A capela-mor e as absíolas são cobertas por uma abóbada de nervuras firmada, num dos fechos, pelo escudo do fundador.
A coleção de mausoléus e de lajes sepulcrais brasonadas, que se encontra disposta em vários locais da igreja, é notável. Na Capela de São João Evangelista, no braço direito do cruzeiro, encontra-se o túmulo de D. Pedro de Menezes e de D. Beatriz Coutinho, constituído por uma grande arca de calcário, assente em oito leões com despojos humanos e animais entre as garras. A tampa da arca contém os jacentes de mãos dadas, com as cabeças sobre almofadas protegidas individualmente por grandes baldaquinos. D. Pedro traja arnês sob cota de armas com o seu escudo, enquanto que D. Beatriz segura na mão esquerda o livro de horas, vestindo uma túnica com capa. Os frisos são decorados com anjinhos, querubins, carrancas e cordas floridas. As quatro faces da arca apresentam ramos de azinheira, envolvendo a divisa Áleo, dispondo no frontal direito e nos faciais o brasão de D. Pedro, enquanto que no frontal oposto se encontram representados os de D. Beatriz e de D. Margarida Sarmento de Miranda, sua primeira mulher. À direita deste túmulo, em campa rasa, ergue-se o de D. Leonor Coutinho, filha de D. Pedro e de D. Margarida. No absíolo direito, diante da mesa do altar, encontra-se a sepultura de  Pedro Álvares Cabral, em campa rasa, constituída por uma laje retangular simples gravada com inscrições em caracteres góticos. Dispersas pela igreja, encontram-se várias outras sepulturas constituídas por arcas tumulares inseridas em arcossólios.
Fruto do longo período de construção, o templo engloba elementos de duas correntes distintas do gótico português: o chamado gótico mendicante, de forte tradição na vila de Santarém, nomeadamente nos conventos dos Dominicanos e dos Franciscanos do século XIII, e o gótico flamejante, bem patente no Mosteiro da Batalha. À primeira corrente arquitetónica obedecem a cabeceira tripartida, o transepto e as naves. Por sua vez, a fachada principal, com o seu portal e com a enorme rosácea, é claramente representativa do gótico flamejantes, apresentando evidentes semelhanças com o emblemático mosteiro batalhino, cuja construção foi contemporânea à deste templo. Também as sepulturas da família Menezes, que aproveitaram a igreja para seu panteão, revelam a influência da Batalha, designadamente do túmulo duplo de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, modelo adotado por D. Pedro de Menezes e sua esposa.
a igreja da Graça, abrindo as portas no momento em que cheguei


















Santo Agostinho
Santa Mõnica




túmulo de Pedro Álvares Cabral e de sua esposa










junto ao túmulo de Pedro Álvares Cabral 









rua de Santarém 





A Igreja da Misericórdia de Santarém, também conhecida como Igreja de Nossa Senhora da Visitação, situa-se no centro histórico da cidade, na freguesia de São Nicolau. O templo, datado de meados do século XVI, é uma igreja-salão da transição do Renascimento para o Maneirismo, incluindo ainda elementos característicos do Rococó. A igreja e o edifício anexo acolheram a sede da Santa Casa da Misericórdia, até à transferência desta para o Convento de Nossa Senhora de Jesus do Sítio. O conjunto é Monumento Nacional desde 1922.
A Santa Casa da Misericórdia de Santarém foi fundada em 1500 por Frei Martinho de Santarém, segundo a indicação de Frei Miguel Contreiras, que quatro anos antes havia fundado a Misericórdia de Lisboa. A Irmandade escalabitana recebeu de D. Manuel I, nos finais da primeira década do século XVI, os mesmos privilégios da instituição lisboeta, gozando a partir de então de proteção régia. A primeira sede da Irmandade funcionou no Hospital de João Afonso, até à conclusão das obras da igreja e do edifício anexo.
A construção da igreja, em meados do século XVI, ocorreu por especial empenho da Rainha D. Catarina, então regente devido à menoridade do seu neto, D. Sebastião. O projeto do templo foi realizado em 1559 por Miguel Arruda, arquitecto régio e um dos mais importantes da época em Portugal. As obras, dirigidas pelos mestres Simão Fernandes e Álvaro Freire, viriam a arrastar-se até ao período filipino. Só em 1602 foi fechada a abóbada, datando de 1606 a conclusão da primitiva fachada – executada por Luís Rodrigues, mestre do Senado Municipal – da qual já nada resta. Em 1603, a Irmandade instala finalmente a sua sede no edifício anexo à igreja.
A campanha artística prolongou-se pelos séculos XVII e XVIII, datando de 1613 a execução do retábulo primitivo da capela-mor, pelos mestres Francisco Coelho e Sebastião Domingues, integrando painéis pintados por Simão Rodrigues. Em 1621, foi executada, pelo mestre Luís Rodrigues, a varanda clássica do Salão do Consistório. Entre 1630 e 1639, realizou-se a campanha de decoração das colunas com brutescos, levada a cabo por André Morales e Sebastião Domingues, enquanto que a ornamentação das janelas e das portas seria concluída em 1714, por Francisco de Sousa. Entre 1747 e 1748, foi executado o teto da sacristia, pintado por Luís Gonçalves de Sena. A igreja foi originalmente pavimentada com ladrilho de tijoleira, que seria substituído em 1721 pelo lajedo atualmente existente.
O Terramoto de 1755, que também se fez sentir com intensidade em Santarém, danificou seriamente a fachada. A reconstrução, que adotou já a linguagem do rococó, foi levada a cabo durante a segunda metade do século. Também desta época datam os retábulos laterais, tendo o retábulo maior e os azulejos da escada e do Salão Nobre do Definitório sido executados na transição do século XVIII para o XIX. Em 1818, foi executado o órgão, por António Xavier Machado e Cerveira. O altar de pedra de São Nicolau Tolentino, proveniente da Igreja da Graça, foi colocado na capela-mor já no decorrer do século XX.
A igreja aproxima-se esteticamente de outras igrejas-salão quinhentistas, resultantes do espírito da Contra-Reforma, como a Igreja de Santo Antão, em Évora, as Sés de Portalegre e de Goa ou a Igreja Matriz de Estremoz. Desta tipologia inicial persiste a espacialidade do interior, com as suas três naves, todas à mesma altura, apesar de a construção do coro neoclássico ter aglutinado duas colunas, diminuindo o espaço primitivo.
A fachada, em estilo barroco tardio, é formada por dois corpos. O primeiro contém o pórtico e os três janelões do coro, um dos quais (justamente aquele que encima o pórtico) apresenta um balcão saliente. O segundo é constituído pelo frontão, que arranca de uma arquitrave robusta, rasgando-se ao centro um nicho que contém uma imagem da Virgem. Num dos cunhais adjacentes à fachada, abre-se uma varanda alpendrada, em estilo renascença. No portal que dá para o pátio, sobrepujam o frontão um escudo quinhentista e os símbolos manuelinos (esfera armilar e cruz de Cristo). A este da fachada da igreja, ergue-se a Casa da Irmandade, com cimalha moldurada e friso divisório, destacando-se no piso superior uma porta-janela de canto, balconada, com sobreverga arquitravada e uma coluna coríntia central.
O interior é de três naves, separadas à mesma altura por arcos e colunas toscanas, cobertas por uma abóbada de berço de nervuras cruzadas. As colunas estão preenchidas com pinturas policromas de ornatos. O coro-alto apoia nos arcos de cantaria do primeiro tramo da nave, apresentando uma balaustrada em madeira. As paredes das naves apresentam várias telas, das quais se destaca O Repouso da Fuga para o Egito e O Pentecostes. Nos topos de cada uma das naves está colocado um altar, cada um com o respectivo retábulo em talha, sendo os laterais em estilo rococó e o do altar-mor neoclássico. O tímpano do frontão deste altar ostenta uma tela circular representando A Descida da Cruz, numa composição seiscentista atribuída a Simão Rodrigues. Sobre os altares laterais, estão colocadas grandes conchas em cantaria.
Na sacristia, em cuja abóbada de berço redondo se admiram igualmente ornatos pintados, do início do século XVIII, existem dois baixos-relevos setecentistas entalhados em madeira, policromados, nos quais figuram A Anunciação e A Adoração dos Pastores, esta última em medalhão. O retábulo, neoclássico, é em talha, apresentando tons de verde e ouro. Nesta sacristiaexistem ainda uma tábua, representando A Adoração dos Magos, e uma série de telas seiscentistas e setecentistas, representando temas da
vida de Cristo.
                             

















































A Igreja de Santa Maria de Marvila é sede de uma das mais antigas paróquias da cidade de Santarém. Segundo reza a lenda, o nome de Marvila teria derivado do de Nossa Senhora das Maravilhas, invocação que D. Afonso Henriques dera a uma imagem da Virgem oferecida àquele templo por São Bernardo de Claraval.
Desconhece-se a data da sua fundação, tradicionalmente atribuída aos Templários, que a teriam edificado logo após a conquista da cidade, no ano de 1147. Todavia, alguns autores admitem a possibilidade de a sua origem ser mais remota, considerando que os Cavaleiros do Templo teriam então reconstruído um edifício que os muçulmanos haviam poupado.
A Igreja de Santa Maria de Marvila localiza-se em pleno centro histórico de Santarém, na freguesia de Marvila, em Portugal. Está situada junto ao largo conhecido anteriormente como Praça Nova, onde se localizavam os Paços do Concelho na Idade Média. A igreja, que remonta à reconquista cristã, era uma das mais importantes da antiga vila. O templo actual, representativo do manuelino e do renascimento, é fruto das várias campanhas construtivas que foi sofrendo ao longo do tempo. Encontra-se classificada como Monumento Nacional desde 1917.
A igreja resulta, provavelmente, da refundação de uma antiga mesquita da medina islâmica de Santarém, datando dos tempos da reconquista cristã. Após a sua fundação, a igreja foi entregue à Mitra de Lisboa, no tempo do bispo D. Gilberto. Mais tarde, em 1159, a posse do templo foi doada por D. Afonso Henriques à Ordem dos Templários. Aparentemente, o templo teve como designação original a de Santa Maria de Santarém, o que atesta a sua primazia sobre as restantes igrejas da então vila, nomeadamente sobre a Igreja de Santa Maria da Alcáçova. De facto, a paróquia aqui sediada era considerada a mais importante da vila, tendo a igreja sido elevada a colegiada em 1244, por reforma do bispo de Lisboa, D. Aires Vasques, tomando a designação de Colegiada de Santa Maria de Marvila. Este nome provém, ao que tudo indica, de uma imagem (hoje desaparecida) ofertada por São Bernardo no século XII, Nossa Senhora das Maravilhas, denominação que, por deturpação popular, gerou o vocábulo Marvila. Apesar da designação atribuída à igreja, o atual orago é Nossa Senhora da Assunção.
Na sequência da sua cristianização, a igreja foi totalmente reconstruída em meados do século XIII, adquirindo então uma aparência gótica da qual já muito pouco resta na atualidade. No entanto, a intervenção mais marcante haveria de ser levada a cabo na primeira metade do século XVI, quando sob o patrocínio do Vice-Rei da Índia, D. Francisco de Almeida, a igreja foi ampliada e totalmente reformada. Esta campanha construtiva, que estaria concluída em 1530, conferiu a atual configuração manuelina ao templo, datando desta mesma época o portal principal, os arcos interiores, a cabeceira e a torre primitiva. Esta campanha foi seguida por uma outra, talvez na sequência do terramoto de 1531, no reinado de D. João III, de cunho renascentista, da qual resultou a reforma geral do interior. Em 1573, reuniu-se na igreja o Capítulo Geral da Ordem de Cristo, presidido pelo rei D. Sebastião.
Na primeira metade do século XVII, regista-se uma nova intervenção, de cunho maneirista, a cargo dos mestres Francisco Coelho e Sebastião Domingues, de que é exemplo o Calvário que tapa um dos óculos. Ainda neste período foi levada a cabo a campanha de aplicação dos azulejos das capelas da cabeceira e da capela-mor, entre 1617 e 1620, e das naves laterais, entre 1635 e 1639. Este riquíssimo patrimônio azulejar justifica o epíteto de catedral do azulejo pelo qual o templo é conhecido. Ainda desta intervenção datam o retábulo pictórico executado pelo pintor Simão Rodrigues, do qual apenas resta a tela sobre o arco triunfal, a pintura da abóbada da sacristia, em 1690, e a construção do retábulo em talha dourada do altar-mor, em 1700. Este último perder-se-ia durante as Invasões Francesas.
Em 1902, foi transferido para aqui oórgão da Igreja de Santa Clara, que tinha sido executado em 1817 pelo mestre organeiro António Xavier Machado e Cerveira.
As intervenções que o templo sofreu na metade do século XX, por iniciativa da Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais pretenderam recuperar-lhe a feição primitiva, tendo então sido apeados os altares barrocos da nave e das capelas laterais. Ainda em resultado dessas intervenções procedeu-se a reorganização urbanística da área envolvente.
Apesar de ser um templo paroquial típico do período de Quinhentos, a igreja apresenta grandes dimensões e vasta espacialidade, características associadas ainda ao gótico mendicante. Não obstante, a estrutura e a decoração quinhentista e o revestimento azulejar seiscentista fazem dela, simultaneamente, o mais importante testemunho do Manuelino escalabitano e o maior núcleo seiscentista existente em Portugal, contendo mais de 65 000 azulejos no seu interior. Desta forma, este templo constitui um pequeno museu da história da arte portuguesa, abarcando características sucessivas dos vários estilos arquitetônicos, desde o gótico até ao barroco, passando pelo manuelino, pelo renascimento e pelo maneirismo.
O edifício é composto por um corpo das naves retangular, com uma cabeceira tripartida escalonada, igualmente com uma forma retangular. Na fachada destaca-se o magnífico pórtico manuelino, do primeiro quartel do século XVI, primorosamente lavrado com motivos naturalistas, com arcaria policêntrica trilobada de recorte acortinado, rematando em cogulhos, ladeado por dois pilares seccionados, acogulhados no prolongamento. As portas laterais, datadas da campanha joanina, são encimadas por frontões triangulares. As paredes das capelas laterais e da capela-mor são rasgadas por pequenas janelas em arco quebrado.
O interior é de três naves com arcos manuelinos de volta inteira, apoiados em doze colunas capitelizadas da ordem jônica, sendo estas datadas da campanha de obras joanina. Os perfis dos ábacos apresentam mascarões e rostos relevados. O coro-alto, muito elevado, ocupa parte do primeiro tramo das naves. A iluminação é feita, sobretudo, através de nove frestas de lancete e duplo arregace, distribuídas ao longo do corpo, quatro do lado do evangelho e cinco do lado da epístola.
A capela-mor, que abre para a nave por arco triunfal polilobado, é coberta por uma abóbada polinervada, com barretes decorados com motivos emblemáticos, nomeadamente esferas armilares, cruzes de Cristo e o escudo régio no fecho. As coberturas das absíolas são do mesmo tipo. As duas capelas laterais, ambas com abobadamento nervurado, abrem para o transepto através de arcos góticos. Para além destes arcos, apenas subsistem da época gótica duas portas, a que abre para o batistério e a do coro, ambas simplificadas.
Os parietais da nave são totalmente forrados de silhares de azulejos seiscentistas dos tipos padrão, azuis, amarelos e brancos, e enxadrezado, azuis e brancos. Desta série cerâmica policroma, destacam-se os silhares que forram a capela-mor, no extradorso do arco mestre, cujo óculo está tapado por uma tela circular seiscentista representando o Calvário. Na boca da tribuna admira-se uma tela, A Assunção da Virgem, obra de carácter romântico executada em 1829 por Arcanjo Fuschini, pintor da Ajuda. Esta tela foi colocada no lugar do retábulo maneirista da capela-mor, perdido na sequência das Invasões Francesas. Nas empenas das naves laterais sobressaem, embutidos no silhar do tipo padrão, pequenos quadros cerâmicos policromos alusivos à ladainha mariana.
O púlpito, de mármore, assenta num balaústre estriado, decorado no nó com onze colunas caneladas da ordem coríntia, datando o conjunto dos finais do século XVIII. À entrada do templo, estão colocadas duas pias de água benta manuelinas. A igreja alberga ainda algumas lajes tumulares com inscrições, nomeadamente a lápide tumular da Capela do Santíssimo, com motivos heráldicos, pertencente a Paulo de Pedrosa Meireles, desembargador do Arcebispado de Lisboa e vigário de Marvila e de Santarém, fundador da dita capela, e falecido a 27 de Novembro de 1663.
A sacristia, a que dá acesso uma porta diamantada manuelina, é coberta por um tecto em abóbada de berço de madeira, pintado com largos ornatos, num conjunto datado de 1690. Além de um silhar de azulejos seiscentistas, conserva-se nesta dependência uma pequena imagem de marfim do tipo indo-português, figurando Cristo na cruz.



















igreja do século XII fechada para obras


torre sineira




                                    

                                    


























































































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